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sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Resgatando um passado de vitórias
Imagine-se apostando na vitória de alguém já quase derrotado, prestes ir a nocaute. Agora imagine-se em uma arquibancada vazia, em meio a rasantes de morcegos e futebol de baixa qualidade. Esse é o torcedor operariano, um ser improvável, capaz de muita coisa para ir atrás de sua paixão: o Operário Futebol Clube.
Fundado em 21 de agosto de 1938, o Operário chegou ao profissionalismo em 1973, respaldado pelo intenso crescimento do sul do antigo Mato Grosso "uno", e por um sentimento de representação: com a criação do Campeonato Brasileiro de futebol em 71, todos Estados passaram a ser representados no torneio nacional, sendo nesse momento que o passou a se Galo de Campo Grande destar. Foram notórias campanhas, principalmente, a de 1977, quando o clube chegou a semi-final do Brasileiro. O time, na época comandado pelo lendário treinador Carlos Castilho, foi o 3º colocado no campeonato, feito lembrado e respeitado até hoje por muitos, torcedores ou não do alvi-negro.
Colecionador de títulos, foi tri-campeão sul-mato-grossense entre 79 e 81, vencendo mais quatro vezes ainda na década de 80, quando também ganhou a President Cup, torneio sul-coreano onde enfrentou - e venceu - o maior clube alemão, o Bayern de Munique. Porém, com o fim do regime militar, o crescimento da Capital do agora Mato Grosso do Sul freiou. Além disso, houve a criação do Clube dos 13, entidade que reuniam os supostos 13 principais clubes do país.
Desde então, o Operário entrou em declínio. Na década de 90, foram apenas três títulos: um em 91, e um bi-campeonato em 96 e 97, seu último título. O clube não é campeão há 13 anos. Um jejum incômodo que, apesar da dimensão, não é o maior problema do clube.
Entre dívidas trabalhistas, rebaixamento à Série B do Estadual e divergências gerenciais e políticas, o Operário hoje se encontra perdido, a espera ser resgatado.
Em busca de suas raízes
E é na sede da Torcida Garra Operariana, a Casa do Operariano, que se encontra o Memorial do Operário Futebol Clube, uma iniciativa que, aos poucos, vem ganhando força e estrutura para um dia ser catalogado como um museu do futebol.
No memorial, há desde discos antigos, com músicas e hinos do Operário, até quadros doados por ex-diretores, atletas ou torcedores. Tudo que seja relacionado ao Galo é aceito.
Existente a mais de um ano, o memorial mantém e resgata algumas memórias que poderiam estar mortas. Não raro é ver as pessoas, transeuntes, adentrarem ao salão e relembrarem os velhos e bons tempos de Marião, Toninho, Tadeu, Da Silva, Manga, Escurinho, Peri, Lima, Arturzinho e tantos outros craques.
Bons tempos que fizeram campo-grandenses lotarem o Morenão, identificados com aquele que representava sua terra, sua situação.
Hoje, entretanto, é cada vez maior o número de torcedores de times de outros Estados, principalmente do eixo Rio-SP, clubes com maior cobertura da mídia nacional, concentrada nessas cidades. Não, não é apenas uma questão de bom ou mal futebol. Trata-se de perca de identidade, de ideologia.
Sim, ideologia. Tão importante justamente nos anos 70 e 80, época de glórias do Operário, hoje se encontra quase enterrada, tão quanto o clube campo-grandense.
Ideologia que muitas vezes divide opiniões dentro da própria torcida Garra Operariana: há aqueles de pensamento moderado, que pensam ser possível "se misturar" com torcedores "mistos" (termo nordestino para identificar torcedores locais de times de outros Estados), e os radicais, que vêem como inadmissível a forma dos "mistos" tratarem a história local, a própria história.
É isso. O Memorial, a Torcida Garra Operariana, a Casa do Operariano, são todos um só: uma unidade em busca de força para resgatar não apenas um time e sua torcida. Os operarianos querem mais ideologia, querem reencontrar uma identidade perdida, libertar uma cultura dominada.
Pensando assim, vale a pena frequentar arquibancadas vazias, junto a morcegos. Um pouco de barrismo não faz mal a ninguém.
Memorial do Operário Futebol Clube
O Memorial do Operário Futebol Clube nasceu para manter e resgatar o sentimento e a história operariana, uma das principais referências esportivas, culturais e até políticas de Campo Grande. Hoje castigada, essa história ainda resiste graças aos esforços e resistência de alguns torcedores.
Grupo: Sidney Albuquerque, Felipe Couto e Nyelder Rodrigues
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