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segunda-feira, 29 de março de 2010

Recomeçar é possível - Histórias de dependentes

Você já conheceu o fundo do poço? A maioria das pessoas passa a vida sem conhecer, mas algumas precisaram chegar até lá para descobrir a saída e recomeçar.

Elaine

Acreditar na recuperação, na vida sem a droga, em um dia apenas sóbria parecia impossível para Elaine C. A., de 31 anos, usuária desde os 17, influenciada por seu namorado, que depois seria seu marido. Quem a vê hoje, trabalhando como manicure, mãe de três filhos, com a família reconstruída, não imagina como era sua vida até meados de 2007. Elaine chegou a pesar 49 kg, vender a roupa do corpo na “boca de fumo”, tinha feridas na pele, não se importava mais com nada, a droga bastava.
Os filhos, o marido, sua auto-estima eram deixados de lado. "Eu usava mais a pasta base, que em minha opinião é a droga mais destrutiva. Ela também é chamada de “zuca”, popularmente. É o resto da cocaína, a sobra, é barata, e dá a "instiga", aquela vontade de usar mais e mais. Te deixa com a aparência feia, com os ossos aparecendo, as pontas dos dedos queimados. Acaba com a pessoa", explica.

A vontade de se livrar do vício existia, mas ela não conseguia. Passou por três internações em clínicas de desintoxicação, mas em nenhuma das tentativas conseguiu ficar mais de cinco dias. Os familiares buscavam alternativas para ajudar, e foi através da sogra que Elaine conheceu o grupo Amor Persistente. Toda semana ia às reuniões, prometia parar, mas nunca conseguia. “Chegou uma hora que todos se cansaram de mim. Foi então que minha mãe veio de Mato Grosso e viu minha situação, tive vergonha. Ela acreditou em mim e me fez acreditar que eu podia ser gente de novo. Mas tive outra recaída. No consultório do médico psiquiatra ele fez uma condição para me tratar: ficar 21 dias em uma clínica de desintoxicação. Eu não queria voltar para aquele lugar, sabia como era, mas tive de concordar, era minha única alternativa. No carro indo para casa me despedir de minha mãe e meus filhos, pedi a Deus que não me deixasse ir para lá, prometi a Ele que não iria sair de casa naquele dia, não iria usar nada, se Ele me desse essa última chance. Pedi com toda minha fé", conta.
Depois desse dia Elaine resolveu mudar sua vida. ”Meu encontro verdadeiro com Deus me fez ter força, acreditar que era possível a mudança”, afirma. Com o apoio de amigos, familiares e das reuniões do grupo, está limpa desde então.

Jorge

Jorge M.M., de 26 anos, começou a usar cocaína aos 12, para se encaixar no seu grupo de "amigos", do qual seu irmão já fazia parte. Ao longo de seus 12 anos na adicção sofreu duas paradas cardíacas, mas mesmo assim não saiu das drogas. Com 24 anos mudou de Dourados para Campo Grande, foi morar com seu primo e por insistência dele foi conhecer dona Aurora e a Cadef. Quando ouviu pela primeira vez que seu caso era de internação, achou uma bobagem, “Não precisava daquilo, não era louco.” Mas passou a frequentar as reuniões do Amor Persistente.
Com a força de vontade e a ajuda das reuniões conseguiu ficar 30 dias limpo, mas então teve uma recaída. "Gastei todo meu salário, vendi minhas roupas. Meu primo conversou comigo e me perguntou o que eu queria pra minha vida, e eu disse que queria ser internado." Jorge passou seis meses numa comunidade na cidade de Camboriú/SC e desde então frequenta reuniões de apoio em grupos como o Amor Persistente. ”Frequentar os grupos de apoio é importante para dar continuidade ao tratamento da comunidade. Meu círculo de amizades mudou, os lugares onde frequento também. Procuro estar sempre próximo dos meus amigos de grupo”, alerta.

*Os nomes utilizados na matéria são fictícios. Os reais nomes foram preservados.

Adicto - Termo utilizado para se referir ao dependente químico. A palavra veio do latim e significa escravo. Eles se chamam de adictos em recuperação, pois estão se libertando da escravidão das drogas.
Viviane Oliveira

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